sexta-feira, 14 de março de 2008

Estavas Estranha, Inês (reedição)

Quando o antigo Letras Negras ainda respirava e vivia, eu escrevi um poema que gostei. Apesar de não apreciar de nada que escreva, de vez em quando surpreendo-me a mim próprio com um ou outro texto que me agrada. O “Estava estranha, Inês” (chamemos-lhe assim, por falta de nome) foi um desses casos esporádicos. Foi, na altura, dedicado a uma amiga e ela sabe quem é. A ela e a todos: uma (tentativa, pelo menos de) vida feliz.


Estavas estranha, Inês
Sentada na tua cama,
De mãos cerradas contra a face.

Gritavas bem alto, Inês,
Gritavas o nome dele,
E choravas o estranho fado
Que Deus grande te fez.

Pedias para desaparecer
E agarraste-te aos meus braços.
Agarraste com tanta força,
Com tanto pesar,
Que ainda hoje me doem
Se por lá os dedos passar.

Sentias-te só, Inês,
E só ficaste durante alguns dias.
O teu sorriso desapareceu
E a cara foi perdendo a cor.

As criadas preocupadas corriam,
Para cá e para lá,
Chamando de bruxaria ao que tinhas,
E lavando o corpo sempre que te tocavam.

Dormias pouco, Inês,
E quando o fazias sorrias.
Imaginavas-te com ele,
E eras feliz por breves momentos.
Mas cedo acordavas e voltavas
Ao teu desalento.

Nem o teu belo cabelo foi poupado,
Que escorria molhado
Das tuas inúmeras lágrimas.
Tornou-se desalinhado e triste,
Mas, para mim, nunca deixou de impressionar.

Se algum dia, Inês,
Se algum dia olhares para trás
E te lembrares destes dias,
Não voltes a chorar,
Porque ao povo que te olha
Dói tanto como te pode a ti doer.

4 comentários:

violent.femme disse...

que bonito *.*

Unknown disse...

é muito lindo, já gostava desde a primeira "edição"

fica bem*

Palavras na noite disse...

sem duvida que a "ines", a estranha "ines" tem sorte de ter um "estranho" amigo como tu!

Muito bom o texto, mesmo!

abraços
.

Anônimo disse...

já conhecia.

bonito-bonito*